Em seu quarto volume, projeto do IBGE caracteriza região a partir de obras nacionais
Do Rio Grande de São Pedro, no Rio Grande do Sul, até Belém e a foz do Rio Amazonas, a viagem pela costa brasileira pode ser feita nas melhores companhias. Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Ana Miranda, José Lins do Rego e José Cândido de Carvalho, entre outros, emprestam suas obras para unir geografia e literatura no quarto volume da série Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras, intitulado Costa brasileira, divulgado na sexta-feira (25) pelo IBGE.
O livro dá continuidade à coleção iniciada com Brasil Meridional (2006) e Sertões Brasileiros I e II (2009 e 2016) e terá um quinto volume, Amazônia, ainda sem data prevista de lançamento. Aos trechos de romances, juntam-se fotos, imagens de satélite e mapas em diferentes escalas para compor cenários de regiões brasileiras que marcaram a trama de grandes obras da literatura nacional.
Costa brasileira contempla regiões constituídas a partir do desembarque de europeus em territórios que se tornaram colônias portuguesas, cuja ocupação foi determinada por interesses estratégicos da Coroa, como a proteção do território e a exploração de riquezas.
“Este volume é muito importante, porque aborda justamente o início do processo de ocupação do território e como ele se estendeu ao longo tempo. Há cidades que têm sua ocupação desde o período colonial”, comenta a geógrafa que coordena o projeto, Maria Lúcia Vilarinhos. “Nossa linha de costa é extensa e caracteriza-se pela presença de algumas de nossas maiores metrópoles”. O resultado, segundo ela, é uma expressiva produção literária, tanto pelos autores e autoras, mas também pela presença de público crítico e leitor.
Lugar de chegadas e partidas, a Costa também testemunhou um dos processos mais marcantes na constituição da sociedade brasileira – o desembarque de populações africanas que foram violentamente arrancadas de seus territórios de origem para aqui serem escravizadas. A escravidão e seus impactos na formação social brasileira, assim como a presença de grupos de habitantes originais do que hoje é o Brasil, também estão presentes na trama de vários romances nacionais.
“É importante dizer que o livro não é exaustivo no sentido de abordar toda a extensão da Costa brasileira, porque é impossível. E não é exaustivo em relação aos romances, porque é impossível citar toda a produção literária sobre determinadas regiões”, explica Vilarinhos. “Temos um volume bem diversificado, com escritores e obras nacionais muito importantes para se entender o processo de ocupação do território”.
Vilarinhos destaca o papel de Machado de Assis – “nosso autor maior”, fundador da Academia Brasileira de Letras, nascido em 21 de junho de 1839. “O Machado é um brilhante autor porque ele retrata a sociedade em que ele vive, naquele tempo, mas que nos permite entender a sociedade brasileira até hoje”, declara. Não por acaso, o mês em que se completam 182 anos de seu nascimento foi escolhido para o lançamento da Costa brasileira. A homenagem é uma forma de reconhecer a literatura como “instrumento luxuoso, valiosíssimo”, para entender nossa sociedade e nosso território.
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