‘Afeganistão’ pode cair no Enem e em vestibulares?
Publicação: 24/08/2021

Entenda quais os tópicos principais a serem estudados

Com a crise desencadeada pela volta do grupo Talibã ao poder, o Afeganistão ocupou o noticiário e pautou discussões nas redes sociais ao longo desta semana. Será que, por isso, o tema pode ser cobrado no próximo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e nos vestibulares?

Professores ouvidos pelo G1 explicam que dificilmente os episódios mais recentes, de agosto, estarão nas avaliações. Mas a importância geopolítica do Afeganistão e a sua trajetória o tornam um candidato permanente a aparecer nas provas – em recortes sociais, históricos ou geográficos.

“O Enem, por exemplo, é formulado com perguntas de um banco de questões, pré-testadas antes. É bem improvável que dê tempo de incluir algo tão atual. Só que existem outras formas de o Afeganistão ser abordado nos exames – por isso, é importante entender o contexto do que ocorre lá agora”, explica Igor Vieira, gestor de ciências humanas do Colégio e Curso pH (RJ).

Abaixo, veja quais aspectos do país podem ser cobrados nos processos seletivos:

1 – Afeganistão como local estratégico

Omar Fadil Bumirgh, coordenador de geografia do Curso Etapa, explica que o Afeganistão é historicamente ligado à ocupação estrangeira – no século XIX, pelos impérios britânico e russo, e a partir de 1979, pela invasão soviética e norte-americana.

“O Enem costuma cobrar do aluno um entendimento das causas e consequências de um problema. O candidato precisa saber por que tantas potências se impuseram no país”, diz.

Segundo ele, são dois motivos centrais:

  • geográfico: o Afeganistão ocupa uma posição importante no mapa, ligando a Ásia Central, o Oriente Médio e o subcontinente indiano. Integra a rota do ópio (narcótico produzido no país), da seda (novo projeto da China de comunicar o Oriente ao Ocidente) e da passagem de oleodutos.
  • geopolítico: pode ser um ponto disseminador do fundamentalismo islâmico, capaz de inflamar movimentos e desestabilizar a Rússia (com os chechenos) e a China (uigures).
Afeganistão posição estratégica na Ásia — Foto: G1/Arte
Afeganistão posição estratégica na Ásia — Foto: G1/Arte

Dica: questões de ciências humanas do Enem costumam ser ilustradas por mapas. Dê uma olhada na posição geográfica do Afeganistão para se familiarizar antes do exame.

2 – Guerra entre o Afeganistão e a União Soviética em 1979

Outra possibilidade é haver uma questão sobre o conflito entre a União Soviética e o Afeganistão (de 1979 a 1989).

Soldados afegãos durante a Guerra do Afeganistão, em março de 1989 — Foto: Andrew/Sputnik/Sputnik via AFP/Arquivo
Soldados afegãos durante a Guerra do Afeganistão, em março de 1989 — Foto: Andrew/Sputnik/Sputnik via AFP/Arquivo

“No vestibular, a temática afegã costuma ser trabalhada a partir deste contexto: da crise soviética no fim da Guerra Fria e da emergência de um movimento islâmico radical contra a presença dos russos na região”, afirma Igor Vieira.

Dica: É interessante que o candidato estude sobre a Guerra do Afeganistão e saiba relacionar os mujahidin (forças rebeldes afegãs) ao surgimento do movimento Talibã.

3 – Envolvimento dos Estados Unidos na administração Reagan

Ronald Reagan, então presidente dos EUA, reúne-se com o líder afegão Yunis Khales na Casa Branca, em 1987 — Foto: Mike Sargent/AFP/Arquivo
Ronald Reagan, então presidente dos EUA, reúne-se com o líder afegão Yunis Khales na Casa Branca, em 1987 — Foto: Mike Sargent/AFP/Arquivo

Sob a administração de Ronald Reagan (1981-1989), os Estados Unidos criaram uma “rede de libertadores” para combater a invasão soviética no Afeganistão. O presidente procurou e financiou extremistas islâmicos que aceitassem continuar a guerra contra a URSS.

“Reagan chegou a receber representantes do fundamentalismo islâmico na Casa Branca. Tem até fotos que poderiam ilustrar [uma provável questão no Enem]”, diz Vieira.

4 – Ocupação americana em 2001

Foto de 2009 mostra soldados dos EUA no Afeganistão — Foto: Manpreet Romana/AFP
Foto de 2009 mostra soldados dos EUA no Afeganistão — Foto: Manpreet Romana/AFP

“A história do Afeganistão volta a ter importância nas provas com o que acontece em 2001, depois do atentado do 11 de setembro [ao World Trade Center, nos EUA]”, afirma Vieira.

Os americanos acreditavam que o Talibã, além de esconder membros da Al-Qaeda, ainda havia financiado os ataques terroristas.

“É a partir disso que o governo Bush começa a chamada ‘guerra ao terror’”, complementa o professor.

Isso foi em novembro de 2001, quando os EUA lideraram uma coalizão que invadiu o território afegão. “Conseguiram destituir o governo talibã e passaram 20 anos tentando ‘reconstruir’ o país e apoiando uma gestão laica.”

A dominação só terminou neste mês, quando o Talibã tomou o poder novamente.

5- Valores do fundamentalismo islâmico

Em Cabul, mulheres afegãs marcham com bandeiras para protestar contra a execução pública de uma jovem por adultério — Foto: Massoud Hossaini/AFP
Em Cabul, mulheres afegãs marcham com bandeiras para protestar contra a execução pública de uma jovem por adultério — Foto: Massoud Hossaini/AFP

Outra forma de abordar o Afeganistão – e o Oriente Médio, em geral – é por meio dos valores do fundamentalismo islâmico.

“A política radical e intolerante, a leitura ortodoxa da lei islâmica e a violência contra a mulher são temas cobrados com certa frequência nas provas”, diz Vieira.

Dica: Conheça a história de Malala, uma porta-voz importante sobre a opressão que as meninas e mulheres sofrem contra o extremismo talibã. Depois de ser baleada no caminho para a escola, em 2013, ela ficou conhecida por defender o direito feminino à educação.

Fonte: G1, por Luiza Tenente

Compartilhar