Ideia surgiu durante a pandemia, a fim de manter vivo o interesse pela leitura
“Muito obrigado, Tia Carol, por fazer voar minha imaginação.” Esse foi o agradecimento escrito por uma criança de oito anos em carta enviada para a gestora cultural Carolina Araújo, uma das agentes culturais que organizam o projeto de delivery de livros na Ocupação Cultural Canhoba, um espaço comunitário de integração, criação, formação e fruição artística, localizado em Perus, bairro da zona noroeste de São Paulo.
Mais de cem empréstimos de livros já foram realizados pela biblioteca comunitária que vem atuando em formato on-line, mostrando o interesse dos moradores da região pelo universo da leitura.
Em 2019, os integrantes da ocupação cultural inauguraram uma biblioteca comunitária para fomentar a leitura entre as crianças do território. Mas a pandemia de coronavírus determinou o encerramento das atividades presenciais do espaço comunitário de cultura e afetou a empolgação das crianças que estavam começando a descobrir a biblioteca.
“A gente estava com um grande público infantil, mas em março de 2020 a gente fechou”, diz Caroline Araújo.
Com a ocupação cultural fechada, os agentes culturais que fazem a gestão do espaço começaram a receber mensagens de pais das crianças que frequentavam a biblioteca, perguntando quando o espaço iria reabrir e retomar as atividades.
Os agentes culturais então começaram a pensar em possibilidades para as crianças do bairro de Perus voltarem a ter acesso ao material da biblioteca. E assim surgiu a proposta de criar um delivery para entregar livros.
“A gente teve a ideia de montar um delivery para suprir essa necessidade. As crianças precisam de leitura nessa pandemia”, diz a gestora cultural.
Araújo afirma que o delivery garante que os pais fiquem seguros em casa e não precisem sair para retirar livros para os filhos. “E a ideia é que todo mundo consiga pegar livro emprestado”, diz.
A primeira ação do delivery de livros aconteceu em 2020 e se chamou ‘Leia e devolva sem sair de casa’. No mesmo ano, a ocupação cultural foi contemplada com um edital de fomento ao teatro para a cidade de São Paulo, que chegou no momento certo para ajudar a financiar o projeto de entrega de livros.
“Tendo verba a gente consegue fazer os empréstimos de livros via delivery, e quem faz as entregas é o motoboy, que a gente contratou aqui da região de Perus. Ele faz as entregas, e o pedido de empréstimo é feito por meio de um formulário online, que a gente manda para as famílias”, diz Araújo.
Pelo formulário, as famílias têm acesso ao acervo de publicações. A lista conta com a imagem de capa do livro, uma sinopse, e indicação de faixa etária adequada para leitura. “Nesse formulário, elas também fazem o cadastro, inserem nome do responsável, registro geral, nome da criança e uma data de agendamento, informando o dia que a gente vai entregar o livro na casa, no endereço que elas passaram”, conta Araújo.
Para sistematizar esse processo de entrega e catálogo de biblioteca em um formato online, os agentes culturais da Ocupação Cultural Canhoba criaram um banco de dados utilizando a plataforma de planilhas do Google, um processo simples que vem garantindo acesso ao livro e à leitura na região.
“Elas escolhem até dois livros e devolvem depois de 15 dias. A gente vai até a casa da pessoa e retira o livro, que é embalado e entregue numa sacolinha kraft”, diz
“A nossa biblioteca comunitária tem um acervo adulto, mas a gente não conseguiu catalogar ainda. É um acervo grande, tem todas as áreas. Mas o foco agora são as crianças, elas estão com um tempo muito ocioso em casa, algumas não têm ido para a escola e muitas não têm acesso à internet. A gente sabe que as crianças estão superestressadas por conta da pandemia, e com a leitura elas dão uma acalmada. E também para elas não ficarem muito na rua, até para dar um sossego para as mães que estão em casa”, afirma Araújo.
O grupo já realizou 13 ações e tem despertado um interesse crescente de moradores de outros bairros nos arredores de Perus. “Por enquanto, a gente não consegue atender os outros bairros”, diz.
Fonte: UOL, por Tamires Rodrigues