Exposição no IMS festeja o legado de Carolina Maria de Jesus
Publicação: 24/09/2021

Mostra reúne mais de 300 itens, entre fotos, vídeos e documentos

Uma das primeiras escritoras negras no Brasil, Carolina Maria de Jesus (1914-1977) tornou-se um importante símbolo de resistência dos movimentos negros contemporâneos. E você pode conhecer um pouco mais sobre a trajetória dessa grande autora em uma exposição incrível no IMS Paulista!

Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus é um dos símbolos do movimento negro brasileiro (Foto: Henri Ballot. Revista O Cruzeiro, 31 de dezembro de 1960, edição 0012 / Assessoria de Imprensa IMS)

Trata-se da mostra “Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros”, que pode ser visitada gratuitamente entre os dias 25 de setembro e 30 de janeiro, de terça-feira a domingo, das 12h às 18h. É preciso fazer um agendamento prévio neste site.

Com curadoria do antropólogo Hélio Menezes e da historiadora Raquel Barreto, a mostra apresenta aspectos pouco conhecidos da vida e obra da escritora do famoso livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” (1960), que denunciava as difíceis condições de vida da população negra nas comunidades brasileiras.

Fruto de uma pesquisa de quase dois anos sobre a homenageada, a exposição reúne cerca de 300 itens, entre fotografias, manuscritos, vídeos e material documental. E ainda conta com trabalhos de cerca de 60 artistas que dialogam com a produção de Carolina.

A ideia é apresentar ao público a importância histórica da escritora para pautas como o antirracismo, a luta pelo letramento e pela moradia, além de mostrar como ela interpretou a política e a desigualdade do Brasil de seu período.

A exposição está dividida em 13 núcleos temáticos, passando pelos principais momentos da trajetória de Carolina Maria de Jesus, como a infância em Sacramento (MG), a mudança para São Paulo, o lançamento e a repercussão de seus livros, e até o fim de sua vida, em Parelheiros (SP).

O título “Um Brasil para os brasileiros” remete a dois cadernos originais de Carolina, que deram origem ao livro “Diário de Bitita” nos anos de 1980. Esses manuscritos são o fio condutor da mostra e estão exibidos logo na entrada.

É possível ver fotografias pouco conhecidas da artista. Há imagens em que ela aparece sorrindo, usando roupas elegantes, posando com os filhos, em um programa de televisão, e até no Carnaval.

Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus em imagem de 1963 (Foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo/Última Hora / Assessoria de Imprensa IMS)

O artista Antonio Obá foi convidado para fazer um retrato de Carolina. A obra ganhou o título de “Meada” e é um dos principais destaques da exposição. Os trabalhos dos artistas convidados tecem diálogos poéticos com os documentos, as imagens exibidas e os temas abordados pela escritora.

A instalação “Escoras para tetos prestes a desabar” (2019), de Luana Vitra, trabalha com conceitos de arquitetura, refletindo sobre temas como a ocupação, uma das questões tratadas pelo no livro “Quarto de despejo”.

A escultura “Uma palavra que não seja esperar” (2018), de Flávio Cerqueira, representa uma menina carregando uma pilha de livros em sua cabeça. Para dialogar com a obra, foi escolhido o poema “Quando eu morrer”, de Carolina, impresso em uma pilastra no IMS.

A relação da homenageada com a mídia também é abordada na mostra. Após o lançamento do livro “Quarto de despejo”, a imprensa passou a retratar Carolina não como uma escritora, mas como uma personagem estereotipada, “a escritora favelada”, segundo os curadores.

Escritora em dezembro de 1960 (Foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo/Última Hora/Assessoria de Imprensa IMS)

A artista também foi mãe solo de três filhos, desta forma, a maternidade era um assunto recorrente na sua obra. A exposição tem um núcleo dedicado ao tema, com registros de Carolina com seus filhos, incluindo três fotos raras, que pertenciam à própria autora.

Poucos sabem, mas Carolina compunha canções, cantava, tocava violão e costurava. Em 1961, gravou o disco “Quarto de despejo”, um ano depois de lançar o livro homônimo, com músicas de sua autoria. É possível conferir o raro LP, com 12 faixas, na mostra.

Os textos de Carolina aparecem na exposição com sua própria letra e em diversos formatos, como manuscritos, projeções na parede e lambe-lambes. Ao longo de sua trajetória, Carolina escreveu ainda poemas, crônicas e peças de teatro, a maioria inédita.

Além de sua obra mais conhecida, ela publicou, em vida, “Casa de alvenaria” (1961), “Pedaços da fome” (1963), e “Provérbios” (1963). Após sua morte, foram lançados também “Diário de Bitita” (1986) e outras edições independentes reunindo textos seus.

Fonte: Catraca Livre

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