“Constelação Clarice”: exposição conecta Lispector e artistas plásticas
Publicação: 27/10/2021

Mostra mescla produção da escritora com a de 26 mulheres

É sob a guarda do Instituto Moreira Salles (IMS) que o acervo de Clarice Lispector se encontra desde 2004. São livros, jornais, manuscritos inéditos, cartas, pinturas — ao todo, mais de mil. Em uma mostra temática hospedada pelo centro cultural, no entanto, os fãs da escritora brasileira terão uma surpresa: não só verão as obras de Clarice expostas, como também as criações de artistas que foram suas contemporâneas. E tudo entrelaçado, como se elas fossem uma coisa só — é essa a ideia de “Constelação Clarice”.

Não é tão abstrato quanto parece: já na entrada da exibição, quem dá as boas vindas ao público é uma escultura da brasileira Maria Martins. A peça “Calendário da Eternidade” (1953), em formato circular, não foi escolhida à toa. Ela remete à ideia de circularidade igualmente presente nas produções de Clarice, como ilustram algumas das 18 pinturas da escritora que vez ou outra manipulava os pincéis sem pretensões profissionais, expostas logo em seguida.

A mesma linha de raciocínio se desenrola por todo o percurso à frente: estabelecer conexões entre um dos maiores nomes da literatura brasileira e os de “estrelas” que exploraram temáticas que dialogam entre si e, assim como ela, atuaram entre as décadas de 1940 e 1970 — só que no ramo das arte visuais. “Por meio da aproximação propiciada por Clarice, ganha lugar uma compreensão renovada e mais complexa daquele momento da arte brasileira. Por outro lado, a partir dessa constelação entre trabalhos plásticos e escrita, também a literatura de Clarice aparece sob nova óptica”, explicam os curadores da exposição, o poeta Eucanaã Ferraz e a escritora Veronica Stigger, em comunicado enviado à imprensa.

Onirico, tela de Djanira da Motta e Silva, uma das 26 artistas visuais contemporâneas à Clarice Lispector cujas obras serão exibidas na mostra (Foto: IMS/Reprodução)
Onirico, tela de Djanira da Motta e Silva, uma das 26 artistas visuais contemporâneas à Clarice Lispector cujas obras serão exibidas na mostra (Foto: IMS/Reprodução)

Distribuída em dois andares do IMS paulista, a mostra exibirá 300 itens do acervo pessoal de Clarice, entre manuscritos, fotos, cartas, discos e reportagens, além de obras de outras 26 artistas. Além de Martins, a lista inclui nomes como Mira Schendel, Fayga Ostrower, Lygia Clark, Letícia Parente, Djanira, Celeida Tostes e Maria Bonomi — esta última, inclusive, amiga próxima da autora durante mais de 40 anos.

“Constelação Clarice” é dividida em 11 núcleos temáticos, que abordarão temas caros à literatura clariceana, como a origem das coisas, o misticismo, a reflexão sobre sua própria escrita e a finitude da vida. A caligrafia da escritora estará à vista em trechos de romances como A hora é da estrela (1977) e Um Sopro de Vida (1978), seu último livro.

Manuscrito do romance A hora da estrela, de 1977 (Foto: Reprodução/IMS)
Manuscrito do romance A hora da estrela, de 1977 (Foto: Reprodução/IMS)
Manuscrito do romance Um sopro de vida, último livro da autora (Foto: Reprodução/IMS)
Manuscrito do romance Um sopro de vida, último livro da autora (Foto: Reprodução/IMS)

A exposição inclui ainda itens pessoais da autora, muitos deles retirados da coleção de seu filho, Paul Gurgel Valente, tais como diplomas, discos, máquinas de escrever e fotografias dos álbuns de família. Dois materiais audiovisuais são destaque no catálogo: a entrevista que a autora concedeu à TV Cultura, meses antes de sua morte, em 1977; e um áudio curioso de Hilda Hilst, no qual a poetisa brasileira tenta estabelecer contato com o espírito de Clarice.

Em cartaz até fevereiro de 2022, a exposição é gratuita, com agendamento prévio pelo site do IMS Paulista. Em seguida, os cariocas também poderão conferi-la na unidade do Rio de Janeiro.

Fonte: Revista Galileu

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